e-Fólio B - Contextos do Desenvolvimento Humano [Socialização]


Tarefa 1 – Contextos do desenvolvimento humano [socialização]

Desenvolvimento Psicossocial na Infância e na Adolescência

Resumo

Dos vários estudos teóricos realizados na área da psicologia sobre o desenvolvimento humano, conclui-se que o desenvolvimento humano inicia-se no momento da concepção e vai evoluindo ao longo de toda a vida. O desenvolvimento de cada ser humano é uno, o mesmo resulta de diversos factores: psicológicos, biológicos, sociais e culturais. Citando Tavares e Alarcão (2002:25), «o desenvolvimento humano pressupõe uma estrutura humana, a estrutura da personalidade, que se desenvolve no tempo de modo progressivo, diferencial e globalizante […], através de diferentes estádios de diferenciação».

O processo de socialização que decorre ao longo de toda a vida do indivíduo divide-se em quatro etapas: a infância, a adolescência, a idade adulta e a velhice. No presente trabalho irá ser abordada a fase da Infância, compreendida entre os 0 e os 12 anos e da Adolescência, compreendida entre os 10/11 e os 21/22 anos. Irá ser abordado o desenvolvimento psicossocial da criança [vinculação] e do adolescente [identidade].

Palavras-chave: Socialização, Personalidade, Infância, Vinculação, Adolescência e Identidade

Infância [Vinculação]

As várias teorias psicanalistas defendem que a relação primária estabelecida com os pais durante os primeiros anos de vida, fornece à criança capacidades ou incapacidades que visam desenvolver as suas aptidões sociais em geral e as relações íntimas em particular, deste modo, a construção da sua personalidade vai depender do contexto social e cultural onde está inserida. O desenvolvimento da criança é potencializado pela satisfação das suas necessidades. Segundo Freud (1964), «a figura materna é o único objecto de amor da criança e o protótipo de relacionamentos futuros, sendo a interacção entre mãe e o bebé fundamental para o seu desenvolvimento».

Actualmente a figura paterna é considerada relevante no processo de vinculação, a relação emocional que o bebé desenvolve com o pai e posteriormente com outras figuras próximas, com as quais se relaciona em conjunção com os objectos do meio onde está inserido, têm tanto significado como na relação que estabelece com a mãe, desde que a criança possa estabelecer vinculação [relação emocional recíproca entre a criança e outra figura próxima da criança, na qual cada um contribui para a qualidade da mesma]. Citando Pedro Gomes (2005), «As primeiras relações afectivas que a criança vivencia influenciam as relações afectivas subsequentes. A criança baseia o seu sentido de coerência, a sua resiliência, enfim todas as suas forças, no modo como se sente amada, se sente significativa, junto de quem cuida de si, de quem a educa, de quem a ensina, de quem com ela se cruza».

Sabe-se hoje que uma vinculação eficaz nos primeiros anos de vida, irá contribuir para o desenvolvimento de um adulto seguro, deste modo, a grande responsabilidade do educador [primeiro a família e posteriormente a escola] deve ter em especial atenção o processo de vinculação e a forma como o mesmo irá influenciar o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial da criança. O educador deve ter um papel de mediador entre a criança e o mundo, será através das relações que a criança desenvolve com o “outro” que a mesma conseguirá obter condições para construir as suas próprias condições psicológicas. Segundo Erikson (1963), «as crianças incapazes de resolver os primeiros conflitos psicossociais podem ter dificuldades posteriores em lidar e resolver outros conflitos que surgirão no futuro».

Adolescência [Identidade]

Segundo Tavares e Alarcão (2002), «A adolescência implica um processo evolutivo ao longo de três estados de maturação: orgânico, psicológico e social. Cada estado de maturação reflecte uma fase de transição da criança para o adulto». A construção da identidade resulta do processo de separação e individualização que o adolescente vivencia quando confrontado com as mudanças ocorridas nesta etapa do seu desenvolvimento [mudanças físicas da puberdade, desenvolvimento da identidade sexual, a busca de novos valores, aproximação do grupo de pares e reformulação do pensamento], deste modo, a sua identidade constrói-se através da sua auto-afirmação.

O adolescente procura satisfazer as suas necessidades próprias e os seus interesses, questionando os valores que lhe foram transmitidos na etapa anterior, a infância. A construção da identidade é pessoal e social, acontece através da interacção entre o adolescente e o meio onde está inserido, o adolescente procura a interdependência dos pais e a inclusão/aproximação dos amigos/grupo de pares. Esta nova dependência que o adolescente cria com o grupo de pares vem substituir a dependência que o mesmo tinha para com os pais na infância. O adolescente procura identificar-se com o grupo de pares como forma de dividir as suas angústias e padronizar as suas atitudes e ideias, deste modo é através da inter-relação com o grupo de pares, que o mesmo encontrará sentimentos, interesses e preocupações comuns, que o ajudarão a ultrapassar a crise de identidade em que se encontra.

Segundo Erikson (1968, 1982), «a adolescência é a fase da vida em que os indivíduos devem estabelecer um sentido de identidade pessoal. Este desafio da construção da identidade, mais conhecido por crise de identidade, é fruto do desenvolvimento biológico, de expectativas culturais e de pressões sociais. A identidade não surge espontaneamente com a maturação, tem de ser procurada e estabelecida através de um esforço pessoal». Compreender quem é, o que quer ser, o que quer fazer, qual o seu papel na sociedade, o que irá fazer no futuro, o que esperam dele, é questões que o adolescente coloca a si próprio de modo a dar um significado coerente à sua vida, de modo a integrar as suas experiências passadas e presentes que visam a busca de um sentido para o futuro.

Conclusão

Na primeira etapa de vida do ser humano, a infância é considerada uma fase importantíssima para a formação da personalidade do ser humano, as relações emocionais que o mesmo desenvolve junto dos que lhe são mais próximos, são decisivas para o seu desenvolvimento físico, psicológico e social. O comportamento que as crianças adoptam visa manter a relação privilegiada com as figuras de vinculação e protecção.

Na etapa seguinte, a adolescência é considerada como a fase de maturação do desenvolvimento físico, psicológico e social, o inicio da independência em relação ao pais e a descoberta do “eu”, a identidade. O adolescente encontra uma uniformidade de comportamentos, pensamentos e hábitos que vivencia com o grupo de pares de pertença, com os quais procura dividir as suas angústias, atitudes e ideias de modo a compreender o seu eu e construir a sua identidade.

Ao longo de toda a sua vida o ser humano vai construindo o seu eu, o modo como perspectiva o mundo, resulta da interacção que o mesmo constrói com o meio envolvente. A aprendizagem resulta da interacção do indivíduo com o meio social e cultural onde se insere. A escola sendo uma instituição social com funções de socialização e de instrução, tem também como função o desenvolvimento do indivíduo. A aprendizagem e a memória são indissociáveis, para se reter conteúdos novos é necessário apreendê-los primeiro, tendo em conta as especificidades individuais de cada um. A aprendizagem envolve a formação de padrões ou comportamentos observáveis, compreender as várias etapas do desenvolvimento humano, tendo em conta o desenvolvimento biológico, cultural e social do indivíduo. Perceber todo o processo subjacente à aprendizagem é uma função que a instituição escolar deve explorar, tendo em conta a maturação, a época, a cultura e a história do indivíduo como ser uno.

Bibliografia

Adaptado de Costa, M.E. (1990). «Desenvolvimento da Identidade» in Paiva-Campos, B. (coord.). Psicologia do Desenvolvimento e Educação de Jovens. (2011). Lisboa: Universidade Aberta. [p. 251-278].

Adaptado de Fleming, M. [2005]. Entre o medo e o desejo de crescer. Porto: Afrontamento. [p. 17-31]. Psicologia do Desenvolvimento. (2011). Lisboa: Universidade Aberta

Oliveira, M.C. et al. [n.d.]. Infância e Desenvolvimento. Escola Superior de Educação de Paulo Frassinett. [p. 31-40]

Tavares, J. e tal. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora. [p. 34-80]